Nos últimos anos, a presença crescente da tecnologia na vida quotidiana das crianças tem levantado questões relevantes sobre o seu impacto no desenvolvimento cerebral. Embora a tecnologia ofereça inúmeras vantagens, como acesso a informações e a oportunidades de aprendizagem, o seu uso excessivo ou inadequado pode acarretar um conjunto de implicações significativas para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças. Por um lado, em termos de benefícios, consideram-se os seguintes:

(1) Acesso a fontes de conhecimento e de aprendizagem interativa: a tecnologia oferece uma ampla gama de ferramentas, em diversos formatos, com vista à aprendizagem de diversas matérias e conceitos. Aplicações educacionais, vídeos informativos ou jogos interativos são alguns dos exemplos que podem enriquecer o processo educacional, proporcionando uma forma atraente e estimulante de adquirir novos conhecimentos. Também plataformas online são muito comuns para ajudar as crianças a desenvolver habilidades em áreas como a matemática, as ciências ou até línguas estrangeiras;

(2) Desenvolvimento de habilidades tecnológicas: o contacto precoce com computadores, tablets ou outros dispositivos electrónicos fomenta nas crianças a aprendizagem de habilidades tecnológicas, essenciais no mundo moderno. A familiaridade com este tipo de dispositivos, com softwares e respetivas linguagens de programação e outras ferramentas de navegação na internet podem preparar as crianças para o futuro, onde a proficiência tecnológica é frequentemente uma exigência e um requisito bastante apreciado no mercado de trabalho;

(3) Conexão social e comunicação: para crianças que vivem longe de familiares ou dos amigos, a tecnologia pode reduzir as distâncias físicas e ser uma ponte que facilita a comunicação e a manutenção de relações afetivas. Videoconferências, mensagens instantâneas e redes sociais permitem que as crianças facilmente se conectem com pessoas importantes nas suas vidas.

Por outro lado, quanto aos riscos da tecnologia associada ao desenvolvimento das crianças, identificam-se os seguintes:

(1) Impacto no desenvolvimento cognitivo: o uso excessivo de tecnologia pode interferir no desenvolvimento cognitivo das crianças. A exposição prolongada a telas e ecrãs pode afetar a capacidade de concentração e a memória de curto prazo. Vários estudos evidenciam que o uso intensivo e desprovido de supervisão de dispositivos electrónicos pode levar a uma redução na capacidade de atenção e à dificuldade de manter o foco em tarefas não digitais;

(2) Impacto no desenvolvimento social e emocional: embora a tecnologia possa facilitar a comunicação, também pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades sociais fundamentais. A interação física é crucial para aprender a interpretar expressões faciais, linguagem corporal e tons de voz. A dependência de interações digitais pode limitar essas experiências, resultando em dificuldades na leitura de sinais sociais e na construção de empatia;

(3) Problemas de sono e saúde física: o uso de dispositivos electrónicos no período que antecede o descanso pode interferir na qualidade do sono das crianças. A luz azul emitida pelos ecrãs pode atrasar ou suprimir a produção de melatonina, uma hormona que regula o sono, levando a distúrbios do sono e fadiga. Além disso, o tempo excessivo em frente aos ecrãs pode contribuir para um estilo de vida sedentário, aumentando o risco de obesidade e problemas de saúde relacionados;

(4) Risco de dependência e comportamento aditivo: a natureza interativa e estimulante de muitos jogos electrónicos e das redes sociais propicia, muitas vezes, condições favoráveis para o surgimento de vícios e comportamentos aditivos. As crianças podem tornar-se excessivamente dependentes da tecnologia para entretenimento e gratificação instantânea, e assim descurar outras atividades importantes, como o estudo, a prática de desporto ou a interação social real.

A tecnologia, quando utilizada de forma equilibrada e responsável, pode ser uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento das crianças. No entanto, é essencial estar atento aos riscos associados e ao uso excessivo e inadequado de dispositivos eletrónicos. Ao definir limites, promover conteúdo de qualidade e incentivar atividades offline, pais e educadores podem ajudar as crianças a aproveitar os benefícios da tecnologia enquanto minimizam os seus impactos negativos no desenvolvimento cerebral