Em termos genéricos, um ataque de pânico é considerado uma das experiências psicológicas mais angustiantes e aterradoras. Este tipo de perturbações mentais enquadram-se num espectro mais amplo de distúrbios de ansiedade (onde também se incluem as fobias, o transtorno obsessivo compulsivo ou o transtorno de ansiedade generalizada) e as estatísticas revelam que afetam milhões de pessoas no mundo inteiro, condicionando severamente a sua qualidade de vida. Neste sentido, a importância de compreender a natureza destas perturbações no contexto da saúde mental é crucial pois os ataques de pânico não só provocam sofrimento emocional e complicações físicas e sociais significativas, como também encaminham muitos indivíduos para um atendimento médico de emergência por confundirem os sintomas com um ataque cardíaco e recearem um morte iminente.
O que é um ataque de pânico?
Um ataque de pânico consiste num episódio espontâneo de ansiedade excessiva e de medo intenso, que tendencialmente ocorre sem aviso prévio e que pode persistir durante alguns minutos. Um ataque de pânico desencadeia um conjunto bastante variado de sintomas que se manifestam a nível físico e psicológico, como palpitações, taquicardia, sudorese, tremores, sensação de asfixia, dores no peito, náuseas, tonturas, medo de perder o controlo ou medo de falecer.
O que pode estar na origem de um ataque de pânico?
Os ataques de pânico podem ser despoletados por diversos motivos, que podem variar significativamente entre pessoas. Entre os principais fatores de ordem biológica, destacam-se:
(1) a predisposição genética, uma vez que indivíduos com histórico familiar de transtorno de pânico ou outro tipo de distúrbios de ansiedade são mais propensos a experienciar ataques de pânico;
(2) o desequilíbrio químico de determinados neurotransmismorres (como a serotonina, a GABA ou a norapinefrina) que desempenham um papel na regulação da ansiedade.
A nível de fatores psicológicos, consideram-se que
(1) as experiências altamente traumáticas (como abusos ou eventos bastante stressantes) aumentam a probabilidade de um ataque de pânico;
(2) a personalidade, em que certos traços como o perfeccionismo ou a necessidade exagerada de controlo aumentam drasticamente o risco de um ataque;
(3) a simples ansiedade por antecipação em que, o medo de vivenciar um novo ataque de pânico pode, paradoxalmente, desencadear um episódio de pânico.
Por fim, importa também sublinhar o papel de alguns fatores ambientais como:
(1) o consumo de estupefacientes, pois o uso de drogas recreativas pode aumentar a ansiedade e, consequentemente, provocar um ataque de pânico;
(2) as experiências de circunstâncias altamente stressantes, como a perda de um familiar, um divórcio, problemas de ordem financeira ou até mesmo mudanças significativas podem funcionar como gatilhos para um ataque.
Neste âmbito das causas hipotéticas, convém salientar que, em muitas ocasiões, os ataques de pânico resultam de uma combinação de alguns fatores mencionados anteriormente. Por exemplo, uma pessoa com predisposição genética para a ansiedade, corre um risco maior de sofrer um episódio de pânico como resposta a uma circunstância stressante que ocorra na sua vida.
Qual a diferença entre ataque e transtorno de pânico?
O ataque de pânico é uma ocorrência isolada. Por outro lado, o transtorno de pânico é uma condição crónica de saúde mental caracterizada pela recorrência de ataques de pânico. A nível de diagnóstico, o transtorno implica que uma pessoa experimente ataques de pânico recorrentes e inesperados, seguidos por pelo menos um mês de preocupação persistente e excessiva com a possibilidade de ter mais ataques.
Além do referido, uma pessoa com transtorno de pânico evidencia mudanças comportamentais significativas relacionadas com os ataques (como evitar certos locais ou situações temidas) ou preocupação com as consequências dos ataques.
Qual a diferença entre um ataque de pânico e um ataque de ansiedade?
A diferença entre estes dois tipos de ataque reside, essencialmente, na intensidade e na duração dos sintomas. O ataque de ansiedade envolve um leque de sintomas que se manifestam de forma moderada, que podem persistir durante um período prolongado (várias horas ou até dias) e é desencadeado por uma causa específica, enquanto o ataque de pânico consiste numa intensa sensação de terror ou de medo, acompanhada por um conjunto exacerbado de sintomas físicos e emocionais, com origem em causas inesperadas e sem qualquer relação com uma situação em específico, e com uma duração curta (alguns minutos).
Quais são as principais alterações fisiológicas e hormonais de um ataque de pânico?
Quando uma pessoa experimenta um ataque de pânico, ocorre uma série de reações complexas no corpo e no cérebro. Para facilitar a compreensão, todas estas alterações serão descritas sob a forma de etapas.
Etapa 1: a amígdala, uma estrutura em forma de amêndoa e localizada nas profundezas do cérebro humano, comumente apelidada de “centro emocional”, detecta uma possível ameaça e envia sinais para as restantes partes do cérebro, principalmente para o hipotálamo, uma pequena região situada na base do cérebro que é responsável pela regulação de diversas funções corporais essenciais como a temperatura, a fome ou a síntese de hormonas;
Etapa 2: por sua vez, o hipotálamo envia sinais à glândula pituitária que produz e liberta um conjunto de hormonas para estimular as glândulas adrenais a segregar adrenalina, noradrenalina, cortisol, entre outras hormonas;
Etapa 3: as hormonas produzidas pelas glândulas adrenais vão ser libertadas na corrente sanguínea e, deste modo, provocar uma série de efeitos fisiológicos que visam a preparação do corpo para uma resposta de luta ou fuga.
Etapa 4: a adrenalina aumenta a frequência cardíaca para obrigar o coração a bombear maiores quantidades de sangue em direção aos músculos e aos órgãos vitais; aumenta igualmente a pressão arterial para provocar um maior fluxo de oxigénio e nutrientes na corrente sanguínea; origina também a dilatação das vias respiratórias com o intuito de acelerar a respiração (hiperventilação) e, deste modo, captar maiores quantidades de oxigénio; por último, o efeito da adrenalina no corpo também engloba a contração das fibras musculares que, desta forma, preparam o corpo para uma ação rápida (de luta ou de fuga). A noradrenalina, por seu turno, reforça o estado de atenção e de vigília para manter o foco no possível perigo. Já o cortisol, conhecido como a hormona do stress, incrementa os níveis de açúcar no sangue e suprime as funções corporais não essenciais, como o sistema imunológico ou o sistema digestivo;
Etapa 5: os efeitos fisiológicos descritos na etapa anterior e provocados pela ação hormonal são responsáveis pelos principais sintomas físicos dos ataques de pânico. A hiperventilação pode causar tonturas ou sensação de falta de ar, a tensão muscular pode induzir uma sensação generalizada de fraqueza ou tremores, e a inibição do sistema digestivo pode manifestar-se sob a forma de náuseas e desconforto abdominal;
Etapa 6: a conjugação de todos estes sintomas físicos de elevada intensidade pode originar num indivíduo uma sensação desesperante e angustiante de perda de controlo ou até mesmo de morte iminente por um ataque cardíaco ou por colapso do corpo. Este padrão de pensamentos catastróficos e a respetiva interpretação errónea destes sintomas físicos (como, por exemplo, crer que o ritmo mais acelerado do batimento cardíaco é um sinal de ataque cardíaco), fazem disparar a ansiedade e intensificam o ataque de pânico, criando, deste modo, um ciclo de retroalimentação. O descontrolo emocional amplifica os níveis de ansiedade que, por sua vez, reforçam a produção de hormonas e, consequentemente, os sintomas físicos.
Para concluir, os psicólogos e os psicoterapeutas posicionam os ataques de pânico como fenómenos complexos, que envolvem uma intricada interação entre hormonas e o respetivo efeito no corpo. Embora se trate de um estado extremamente desconfortável e assustador, entender a biologia subjacente aos ataques de pânico pode fornecer pistas e estratégias úteis para desmistificar este tipo de episódios e providenciar um caminho para um tratamento eficaz. Psicoterapia, medicamentos ou técnicas de gestão do stress são algumas das soluções disponibilizadas para controlar e reduzir a incidência dos ataques de pânico e ajudar as pessoas a recuperar o controlo das suas vidas.