Sara estava no meio de uma reunião de trabalho quando a primeira onda de ansiedade a atingiu como um tsunami silencioso. Aquela sensação tão familiar de agonia e medo rastejou pela espinha acima, como uma sombra gélida e sinistra. Sara ainda ofereceu resistência ao tentar manter a concentração nos aborrecidos gráficos projetados pelo computador do seu chefe. No entanto, era um esforço inglório. Os diapositivos da apresentação começavam, gradualmente a ganhar vida. Palavras que se transformavam em aranhas que deambulavam freneticamente pela parede. Imagens que se transfiguravam em criaturas de rostos distorcidos e ameaçadores. E a voz do seu chefe era cada vez mais um eco distante à deriva no caos da sua mente… Já parcialmente paralisada e anestesiada pela abundante descarga de ansiedade, e num esforço heroico, Sara levantou-se abruptamente, murmurou uma desculpa ininteligível e desapareceu da sala de reunião. Cada passo afundava ainda mais Sara nas areias movediças do medo e do desespero. O mundo em seu redor tornou-se, repentinamente, numa névoa distorcida. Alguns colegas, ao testemunhar seu estado petrificado, correram em seu auxílio mas o barulho ensurdecedor do pânico intenso que dominava a mente de Sara abafava completamente as vozes de preocupação. Completamente fora de controlo, atropelou tudo e todos até, finalmente, embater na casa de banho. Com as suas mãos trémulas, Sara girou a maçaneta e trancou a porta. No interior da casa de banho, e acompanhada pelos seus demónios, Sara deixou-se cair no azulejo frio e pálido que revestia o chão. A ansiedade tomou as rédeas da mente de Sara e comandou um exército de pequenos e invisíveis soldados que, de forma vertiginosa e avassaladora, conquistaram impiedosamente cada centímetro do corpo de Sara. A sua frenética e rápida respiração aspirava incessantemente cada molécula de oxigénio que se aproximava das suas vias respiratórias. O seu coração batia ao ritmo dos tambores da guerra fazendo das veias e das artérias autênticas autoestradas onde o sangue circulava em excesso de velocidade. O suor escorria pela pele de Sara como lágrimas de angústia a desaguar num oceano de medo. E cada músculo era um verdadeiro cabo tenso, esticado ao limite. Foi então que Sara começou a alucinar e a sentir a casa de banho a girar e as paredes a aproximarem-se e a formarem um vórtice claustrofóbico do qual seria impossível de escapar. O chão debaixo do seu corpo parecia um abismo sem fim e um vazio que ameaçava engolir Sara. Em vão, tentou agarrar-se a algo como uma última esperança de sobreviver a um naufrágio cada vez mais real. A sua visão ficou turva e pequenos pontos negros dançavam no teto da casa de banho como corvos a anunciar uma morte iminente. Cada respiração era uma batalha. Subitamente, o ar que ardentemente respirava, parecia inflamar cada alvéolo dos seus pulmões. Sara sentia o seu peito violentamente esmagado e o seu coração estrangulado por uma jiboia invisível. “Estou a morrer!” foi um pensamento que irrompeu pela sua mente. Uma dor aguda irradiava pelo peito, uma mistura cruel de sofrimento físico e terror absoluto. Sara tentou desesperadamente chamar por ajuda, mas a sua voz era agora um sussurro rouco, perdido no vácuo, como um grito num pesadelo do qual não se consegue acordar.
Então, no meio do caos, uma faísca de resistência acendeu-se. Sara fechou os olhos e, com um esforço hercúleo, relembrou as palavras do seu psicoterapeuta: “Sara, tu estás segura. É apenas um ataque de ansiedade, vai passar.” Repetiu estas simples e sábias palavras como uma profecia que prometia aniquilar os demónios que a assombravam e a encurralaram naquela beco sem saída da casa de banho. Ao mesmo tempo, Sara recordou-se das técnicas de respiração, como se fossem um mapa secreto para escapar daquele labirinto de terror. Tentou concentrar-se somente no simples ato de respirar. Inspirar, suster e expirar. Três instruções que compunham a tríade sagrada que ajudaram a iluminar a sua trilha pela escuridão do pânico.
Lentamente, muito lentamente, a tempestade começou a recuar e as garras do pânico soltaram o corpo de Sara, deixando-a num inebriante estado de exaustão. Aos poucos, a sua respiração normalizou e o seu coração retomou o ritmo suave. No entanto, as lágrimas, quentes e salgadas, ainda escorriam pela face amedrontada de Sara, como lava a esculpir o sopé de um vulcão. E foi assim que Sara permaneceu deitada na casa de banho, por mais alguns minutos, enquanto reunia forças. A marcha-atrás consentida pelo pânico deixara uma dolorosa e sombria lembrança do seu poder esmagador. Sara tinha vencido uma batalha, mas a guerra ainda estava longe de cessar.