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Construção da Autoestima e Autoconfiança

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Muitas e frequentes vezes, pacientes numa primeira consulta trazem a queixa da falta de autoestima, segurança e confiança neles mesmos. É algo, diria eu, muito comum na sociedade que vivemos. Serão os aspetos culturais ou idiossincrasias familiares e/ou educacionais que geram esta lacuna?

Os portugueses, em geral, não são um povo confiante. Há toda uma condicionante histórica que perspassa gerações de transmissão da ideia de incapacidade e insuficiência, excepto, provavelmente, na era dos Descobrimentos cujas façanhas e atos heróicos indiciavam que eramos fortes, persistentes, audazes e com sentido de confiança. Há quem preconize que após o sismo de 1 de novembro de 1755, Dia dos Finados (religioso), o povo português reconheceu a sua pequenez e se tornou temente a Deus, dramático, triste, desiludido e insuficiente perante a força dominadora e aterradora de um Deus, que tanto cria como destrói. Ora a cultura é transmitida através da educação, atos, modelos e saberes que passamos aos nossos filhos e estes aos seus, num ciclo de gerações. Porém, a educação mudou! Se antes os pais eram autoritários, agressivos e impunham regras rígidas, a realização de trabalho em idades precoces para sustento da família numerosa, hoje a maioria dos pais segue um rumo diametralmente oposto de permissão, falta de regras e limites, bem como falta de valores familiares e sociais, sendo por vezes a criança a dominar os pais e a casa. Se antes os filhos se tornavam temerosos, retraídos, hoje os filhos são desrespeitadores, indelicados, agressivos, autocentrados, mas também isolados e inseguros. Ou seja, os filhos reclamam por regras e limites, pois que crescer e viver sem fronteiras, sem noção de si e do outro, é no mínimo desestabilizador e desorganizador do ponto de vista mental e psicológico. E é aqui que entra o conceito de autoestima e autoconfiança, precários nas crianças e jovens desta nova era. A educação é, não só permissiva como também sobreprotetora. Tal gera medo, desequilíbrio, falta de confiança e falta de amor-próprio.

Vejamos dois exemplos: uma mãe/pai/cuidador que vê o seu filho cair, sabe que a queda foi pequena, que o seu filho está bem, sem arranhão, mas ainda assim acode em aflição, coloca-o no seu colo e distancia-o do suposto “perigo”, está a transmitir a mensagem “a segurança está junto de mim, não te afastes muito, o mundo é perigoso!”. Desta forma a criança não cria defesas, não vive experiências, não aprende formas de se autoregular sozinha para se acalmar; um filho que ingressa na faculdade com cerca de 17/18 anos e os pais lhe telefonam três vezes por dia a perguntar se está bem, fomenta não só a dependência como também mina a possibilidade do jovem enfrentar sozinho a realidade e criar os seus mecanismos para lidar com a angústia e solidão.

São exemplos que muito embora com toda a boa intenção de transmitir amor e afeto, inconscientemente geram marcas profundas. Aprendamos pois a permitirmo-nos lidar com a realidade e a solidão e delas tirar partido e recursos para que mais tarde possamos fazer face às exigências futuras. É importante desde cedo, dar autonomia, delegar tarefas, dar espaço, dizer “não”.

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