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UM OÁSIS DE AMOR NUM DESERTO DE SOLIDÃO: HISTÓRIA SOBRE O VÍNCULO MATERNO

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“Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.”

Antoine Saint-Exupéry, em Principezinho

 

Era uma vez uma menina chamada Isabela, que cresceu numa casa onde a presença física da sua mãe era constante, embora o calor afetivo materno estava sempre ausente. Desde tenra idade, Isabela ansiava por afeto e atenção. Mas a sua mãe, Sofia, estava constantemente consumida pelas suas próprias preocupações e absorvida pelos desafios com os quais lidava no seu quotidiano. Isabela observava os outros meninos e meninas a partilharem momentos de ternura e carinho com as suas mães. Mas a sua mãe parecia sempre distante e perdida nos seus pensamentos. Isabela costumava procurar, quase instintivamente, consolo nos braços e no colo da sua mãe mas era quase sempre correspondida com um olhar vazio e indiferente. As constantes tentativas de Isabela em conectar-se e vincular-se com a sua mãe eram recebidas com desinteresse. A predisposição física e mental de Sofia para cuidar de Isabela era engolida pelas suas preocupações triviais, deixando Isabela isolada e sozinha, completamente afundada num oceano de emoções não expressas. Isabela e Sofia, outrora unidas umbilicalmente, eram dois mundos próximos fisicamente mas emocional e afetivamente muito distantes um do outro. Eram duas margens de um rio sem uma ponte. Eram dois poemas sem palavras. Eram duas notas soltas de uma música sem ritmo. Eram duas metades de uma história sem um final. Eram duas almas perdidas na escuridão sem uma luz… À medida que Isabela foi crescendo, assimilou ingenuamente a ausência da sua mãe como um reflexo do seu próprio valor. Esforçava-se para ser perfeita na esperança de que poderia, finalmente, conquistar o amor e a aceitação que tanto desejava. No entanto, Sofia permanecia cada vez mais distante. Cada vez mais apática em relação às necessidades emocionais de Isabela. E Isabela foi obrigada a navegar sozinha num mar de desafios, com ventos, marés e tempestades que a vida lhe presenteava, num barco sem marinheiro que lhe proporcionasse uma direção, um abrigo e, acima de tudo, garantia de apoio e afeto incondicional perante as adversidades. Assim, Isabela habitou-se a suprimir as suas carências emocionais, convencendo-se de que o amor materno não era um ingrediente essencial na receita para a sua felicidade. Colmatou este vazio ao criar um mundo paralelo onde encontrava conforto e segurança nas páginas dos livros que devorava ou nas melodias suaves que ecoavam das cordas da sua guitarra. Isabela criou um mundo interior onde era capaz de escapar da frieza do mundo exterior. Um mundo onde a sinfonia das suas emoções deambulava por uma plateia vazia e silenciosa. Um mundo onde as suas emoções eram pintadas numa parede de desilusão. O vazio da negligência emocional da sua mãe semeou diversas feridas que debilitavam cada vez mais a saúde mental de Isabela, uma rapariga muitas vezes à deriva na sua trajetória de crescimento. Por isso, Isabela procurava, alternativamente, validação e aceitação em relações superficiais e na busca por sucesso académico e profissional. Os padrões afetivos que caracterizam a sua infância e adolescência refletiam-se nas suas relações. Isabela tinha uma dificuldade angustiante em conectar-se verdadeiramente com os outros, mantendo as pessoas com as quais se relacionava a uma distância segura com receio de ser, novamente, ferida. Os fantasmas do passado assombravam a realidade do presente de Isabela. Um certo dia, enquanto folheava álbuns de fotografias antigas, Isabela deparou-se com uma foto dela mesma em criança, abraçando a sua mãe cujo olhar fitava o horizonte, com uma expressão facial apagada, provavelmente consumida pelos seus pensamentos. Neste instante, a dor da negligência emocional e da ausência de um vínculo materno que, aparentemente, havia sido profundamente enterrado, ressurgiu das profundezas da mente e invadiu por completo Isabela. Um simples retrato que condensava uma vida vivida ao ritmo da ausência de amor, de carinho e de conforto. Um retrato a cores que resumia uma vida vivida nos sombrios tons de cinza. Um retrato de duas pessoas emocionalmente sintonizadas em frequências tão distantes. Um retrato impresso em dor e tristeza. Determinada em confrontar a sua mãe e cicatrizar definitivamente as suas feridas emocionais, Isabela tomou a iniciativa de ter um conversa franca e honesta com a sua mãe Sofia. Para sua surpresa, a sua mãe reconheceu as suas próprias falhas e expressou o seu profundo pesar pelo sofrimento que havia causado a Isabela. A partir deste momento, mãe e filha embarcaram numa jornada de cura e reconstrução da sua relação. Não sendo fácil superar décadas de negligência emocional e de ausência de vínculo afetivo, recorreram à terapia. Juntas, desta vez unidas pelo amor e pela compreensão mútuas, ambas embarcaram numa jornada de autodescoberta e reconciliação. Um caminho longo e desafiador. Mas Isabela e Sofia, com o apoio de um psicoterapeura, encontraram um caminho para uma conexão mais profunda e significativa e descobriram o poder transformador do amor. Com o avançar da terapia, Sofia aprendeu a priorizar o bem-estar emocional de Isabela, dedicando tempo e esforço para se reconectar e reconstruir a confiança perdida. Isabela, por sua vez, aprendeu a perdoar a mãe, deixando para trás o peso do passado e abraçando um futuro cheio de possibilidades de afeto e crescimento emocional. Enquanto mãe e filha continuaram a sua jornada juntas, descobriram que o verdadeiro vínculo emocional não era algo que pudesse ser quebrado, mas sim algo que poderia ser fortalecido com o tempo, paciência e cuidado mútuo. Mensagem a destacar desta história: o vínculo materno é a base sólida sobre a qual uma criança constrói não apenas sua segurança emocional, mas também seus alicerces para enfrentar o mundo com confiança e compreensão.

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