Entender o modo como as crianças processam sentimentos e pensamentos é essencial para ajudar pais e educadores a apoiar o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. É unânime entre os psicólogos que as crianças, à medida que crescem, passam por diversos estágios de desenvolvimento cognitivo e emocional, cada um com diferentes capacidades de pensamento e com diferentes desafios emocionais específicos de cada etapa, o que acaba por influenciar a maneira como as crianças percebem e interagem com o ambiente à sua volta. Compreender estas etapas e os desafios associados às mesmas é fundamental para promover um desenvolvimento saudável e equilibrado. O processamento de sentimentos e emoções, em condições normais, envolve três etapas: identificar, compreender e regular. Quanto à identificação dos sentimentos, mesmo as crianças mais pequenas são capazes de reconhecer emoções básicas como a alegria, a tristeza, o medo e a raiva. Ainda assim, nos primeiros anos de vida, constata-se uma enorme dependência dos pais para interpretar e responder aos sentimentos dos seus filhos. Nesta fase, as crianças recorrem ao choro, ao riso ou a outras expressões faciais e corporais para comunicar as suas emoções, já que ainda não possuem a linguagem desenvolvida para expressar emoções complexas. Posteriormente, e à medida que crescem, aprendem a compreender emoções e sentimentos mais complexos e a entender o ambiente através do ponto de vista dos outros. Neste aspeto, o papel dos pais é fundamental ao ajudar as crianças a designar e a assimilar o significado das suas emoções, criando assim um “vocabulário” emocional que é importante para o desenvolvimento posterior. Paralelamente, num período sensivelmente entre os 3 e os 5 anos de idade, as crianças manifestam os primeiros indícios da teoria da mente, ou seja, a capacidade de entender que as outras pessoas têm pensamentos, sentimentos e perspectivas diferentes das suas, o que lhes permite formar relações mais complexas e saudáveis. Mais tarde, surge a habilidade de regular e gerir as emoções e os sentimentos, ou seja, uma criança identifica, compreende e aprende a responder adequadamente aos sentimentos e às emoções. Por exemplo, uma criança saber que precisa de se acalmar quando se sente irritada e frustrada. Nesta etapa, a inserção no ambiente escolar representa um momento crítico pois este proporciona novos desafios emocionais e sociais (como fazer amigos), lidar e resolver conflitos ou seguir um conjunto de regras. Neste sentido, o contexto escolar e a respetiva interação com professores e colegas obriga as crianças a aprender estratégias mais sofisticadas de regulação emocional, como a resolução de problemas, a distração ou o uso de instruções para manter a calma.
Importa também aqui destacar o conceito de metacognição, que consiste na capacidade de pensar sobre o próprio pensamento e regular processos cognitivos. Começa a desenvolver-se na infância, onde surge uma consciência rudimentar de alguns processos mentais e as crianças mostram os primeiros sinais de entender, ainda que de forma muito limitada, que têm pensamentos e sentimentos. Também aplicam algumas estratégias simples para resolver problemas, embora sem nunca refletir verdadeiramente sobre essas mesmas estratégias. Numa fase mais tardia da infância, e como já mencionado anteriormente, a teoria da mente dota as crianças da capacidade de reconhecer e entender que os outros pensam de forma diferente.
No início da adolescência, as crianças tornam-se mais capacitadas para refletir sobre as estratégias que usam para aprender e resolver problemas e começam a ajustar as suas decisões com base na eficácia percebida. E é durante a adolescência que a metacognição atinge um estado mais sofisticado, onde já se pensa de uma forma mais crítica e analítica sobre os próprios processos mentais.
Em jeito de conclusão, o processamento de sentimentos e pensamentos nas crianças é um tema dinâmico do desenvolvimento infantil. Contudo, este desenvolvimento nem sempre é um processo linear e pode ser influenciado por uma variedade de fatores, como a personalidade , as experiências pessoais ou o ambiente familiar. Crianças que crescem em ambientes seguros e acolhedores tendem a desenvolver uma maior resiliência emocional, enquanto aquelas expostas a stress ou a traumas podem enfrentar desafios maiores em regular e expressar as suas emoções e os seus pensamentos de uma maneira saudável. É por isto que a compreensão da evolução do processamento de sentimentos e pensamentos ao longo do desenvolvimento de uma criança é importante para que pais e educadores possam contribuir para a formação de habilidades emocionais e cognitivas robustas, ajudando as crianças a crescer de forma equilibrada e, acima de tudo, feliz.