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O cérebro das Crianças

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O cérebro humano é uma das estruturas mais complexas e fascinantes do universo, e o seu processo de desenvolvimento e evolução começa muito antes do nascimento. Porém, é durante a infância que o cérebro passa por transformações extraordinárias, moldando as capacidades cognitivas, emocionais e sociais que nos acompanham ao longo da vida. Compreender como o cérebro das crianças funciona não é apenas um tema intrigante para neurocientistas e psicólogos, mas também uma fonte valiosa de informações para pais, educadores e para todos aqueles que desejam promover um ambiente de crescimento saudável e enriquecedor para os mais pequenos. Nas últimas décadas, os avanços ocorridos na neurociência e na tecnologia de imagiologia cerebral têm proporcionado uma visão e uma perspetiva sem precedentes sobre o desenvolvimento cerebral infantil. Várias pesquisas relatam o modo como diversos fatores como o ambiente, as interações sociais ou a estimulação cognitiva influenciam a estrutura e a função cerebral durante os primeiros anos de vida de uma criança. Desde o desenvolvimento das habilidades motoras e linguísticas, até à formação de memórias e emoções, o cérebro das crianças adapta-se e reorganiza-se de uma maneira surpreendente. Para isto, muito contribuiu uma das características mais marcantes do cérebro infantil, a sua plasticidade que consiste na capacidade do cérebro em reorganizar-se como resposta às experiências e ao aprendizagem. Durante a infância, o cérebro é altamente adaptável, permitindo que as crianças aprendam novas habilidades e recuperem de lesões com maior facilidade do que os adultos. Esta plasticidade diminui com a idade, mas nunca desaparece completamente. Ao recapitular o desenvolvimento cerebral, este tem início ainda durante a gravidez. Após o nascimento, e nos primeiros anos de vida, o cérebro das crianças cresce a um ritmo bastante rápido. Ao nascer, um bebé possui cerca de 100 biliões de neurónios. Nesta fase, o que importa sublinhar não é a quantidade de neurónios, mas sim as conexões entre esses mesmos neurónios, as chamadas sinapses. A formação de sinapses é particularmente intensa nos dois primeiros anos de vida, um período importante para o estabelecimento e formação de habilidades sensoriais, motoras e cognitivas. Em síntese, é possível estruturar o desenvolvimento do cérebro em várias etapas, cada uma caracterizada por avanços específicos. Nos primeiros anos (0-2 anos), os bebés exploram o mundo essencialmente através dos sistemas sensoriais e de ações motoras, o que promove o desenvolvimento sensório-motor, da motricidade e das respetivas áreas como o córtex motor ou o cerebelo. Neste mesmo período, o sistema límbico, área do cérebro que regula as emoções, começa a formar conexões importantes induzidas pelo apego e pelas emoções resultantes das interações com os pais. Já numa fase inicial da infância (3-6 anos), ocorre um rápido desenvolvimento do córtex pré-frontal e, consequentemente, surgem os primeiros indícios de várias funções cognitivas: a linguagem pois, por esta altura, as crianças ampliam o seu vocabulário e começam a formar as primeiras frases, tarefas que recrutam áreas específicas do cérebro, como a área de Broca ou a área de Wernicke, regiões do córtex responsáveis pela linguagem; associada à linguagem, surgem também os primeiros sinais de compreensão e expressão de sentimentos, pensamentos e conceitos abstratos; a capacidade aritmética, uma vez que as crianças começam a entender conceitos básicos sobre números e quantidades e aprendem a contar, a reconhecer números e a realizar operações simples, como somar e subtrair; e o pensamento simbólico e abstrato, que permitem às crianças representar o mundo à sua volta de forma mais detalhada e a participar em atividades e brincadeiras através da imaginação e da criação de cenários fictícios. É ainda nesta fase precoce da infância que o desenvolvimento emocional das crianças expande-se para novas dinâmicas como a formação de relações de amizade mais complexas e tudo o que isso acarreta como cooperação, resolução de conflitos ou a partilha, a capacidade de entender e responder aos sentimentos dos outros (empatia) ou a regulação emocional. Posteriormente, numa fase mais tardia da infância (7-12 anos), ocorre um aprimoramento das habilidades cognitivas executadas pelo córtex pré-frontal, como a compreensão de conceitos matemáticos mais avançados (como a geometria ou frações); o raciocínio lógico e abstrato sobre objetos e eventos; a memória de trabalho que possibilita às crianças manipular informações por períodos curtos, capacidade essencial para realizar tarefas complexas como operações matemáticas; as habilidades de escrita que permitem organizar ideias e conceitos de uma forma coerente e lógica; e as habilidades de leitura, onde se inicia uma transição de aprender a ler para ler para aprender e recorrer à leitura como uma ferramenta essencial de aquisição de conhecimento. Por seu lado, a nível de desenvolvimento emocional, as crianças nesta faixa etária tornam-se mais autoconscientes e capazes de refletir sobre as suas capacidades e características, o que lhes confere uma sensibilidade mais definida da sua própria identidade. Para além do sentido de empatia continuar a ser refinado, também é normalmente nesta etapa do crescimento que as crianças demonstram os primeiros sinais de moralidade ao julgar ações como certas ou erradas, com base em princípios e normas sociais mais complexas. A partir daqui, ocorre a transição para a adolescência. Nesta etapa, as funções cognitivas já mencionadas e discutidas continuam o seu processo de maturação e sofisticação até aos vinte e poucos anos. No entanto, o sistema límbico atinge a maturidade antes do córtex pré-frontal, o que, em parte, pode explicar as respostas emocionais exacerbadas típicas dos adolescentes. Apesar de tudo, o desenvolvimento cerebral das crianças é moldado por uma combinação entre a genética e o ambiente. Experiências numa idade precoce, como a exposição a um ambiente rico em estímulos e o estabelecimento de relacionamentos seguros são fundamentais para o desenvolvimento saudável do cérebro. Não menos importante, outros fatores como uma nutrição adequada, o sono regular e a atividade física também desempenham um papel crítico. Por isso, a compreensão do funcionamento do cérebro das crianças é um requisito importante na orientação de práticas educacionais e terapêuticas eficazes. Assim, reconhecer as características únicas do desenvolvimento cerebral infantil permite a criação de ambientes que nutrem e promovem o desenvolvimento saudável, preparando as crianças para uma vida de aprendizagem e adaptação contínua

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