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PERSPETIVAS TEÓRICAS DA AMIZADE

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Na literatura da psicologia é possível encontrar diversas teorias que oferecem diferentes e valiosas perspectivas sobre o como e o porquê das amizades serem tão essenciais para a experiência humana. Este artigo procura explorar, de forma sucinta, as principais teorias e linhas de raciocínio que proporcionam um enquadramento científico sobre o papel da amizade no desenvolvimento e na manutenção do bem-estar humano.

Teoria da Vinculação (Attachment Theory) A teoria da vinculação, proposta por John Bowlby, na sua génese original, focava-se no vínculo materno, uma intensa ligação afetiva estabelecida entre crianças e as suas progenitoras. Bowlby inicialmente sugeriu, entre outras coisas, que a qualidade desta relação prematura influenciava a capacidade da criança para formar relações saudáveis no futuro. A aplicação desta teoria à amizade pressupõe que a capacidade de formar e manter laços de amizades saudáveis é condicionada pelas primeiras experiências de vinculação. Crianças que cresceram num ambiente seguro e adequado para um desenvolvimento emocional equilibrado, tendem a ser mais confiantes e predispostas a estabelecer relações fortes e duradouras ao longo da vida. São vários os psicólogos e investigadores na área do desenvolvimento infantil que posicionam as relações de amizade como uma extensão do sistema de apego ao proporcionar uma base de segurança e um suporte emocional contínuo. Isto é particularmente importante em períodos de stress ou mudança, momentos em que os amigos podem oferecer conforto e estabilidade.

Teoria do Suporte Social (Social Support Theory) A teoria do suporte social postula que a intensidade e a qualidade das conexões sociais de uma pessoa têm um impacto significativo na sua saúde mental em três dimensões: (1) suporte emocional, que destaca o papel das amizades como uma fonte de empatia, preocupação e amor; (2) suporte instrumental, que privilegia uma faceta mais prática e utilitária da amizade em que os amigos proporcionam ajuda e auxílio em tarefas ou necessidades materiais; e (3) suporte informativo, que enfatiza as amizades como uma parte essencial para resolver e ultrapassar os problemas e os desafios que ocorrem ao longo da vida. São vários os estudos publicados que evidenciam que indivíduos com fortes redes de suporte social, têm menor risco de desenvolver quadros clínicos de depressão, ansiedade ou outras condições de saúde mental. Além disso, o suporte social pode melhorar a recuperação de doenças físicas e aumentar a longevidade.

Teoria do Intercâmbio Social (Social Exchange Theory) Desenvolvida por George Homans e Peter Blau, a teoria do intercâmbio social desconstrói o conceito de relação de amizade através de uma perspetiva económica, como um sistema de troca onde os indivíduos procuram maximizar benefícios e minimizar custos. À luz desta teoria, as amizades são mantidas quando os benefícios (como apoio emocional, companhia, diversão) superam os custos (como tempo, esforço, possíveis conflitos). Consequentemente, esta teoria sugere que as pessoas avaliam as suas amizades com base num equilíbrio entre os recursos (mentais, físicos ou materiais) que disponibilizam e recebem. Apesar de ser uma visão redutora e egoísta resumir as relações de amizade a meras trocas de benefícios, a teoria do intercâmbio social contribuiu com algumas ideias cientificamente razoáveis para explicar os motivos pelos quais determinadas amizades perduram e outras não. Assim, amizades desequilibradas, onde uma das partes sente que oferece e se dedica mais do que aquilo que recebe, tendem a ser insatisfatórias e correm o risco de terminar.

Teoria do Desenvolvimento Social (Social Development Theory) Proposta por Lev Vygotsky, esta teoria sublinha o papel crucial das interações sociais no desenvolvimento cognitivo e emocional. A interação com amigos fornece um contexto importante para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais. E, através das relações de amizade, os indivíduos aprendem a negociar, a resolver conflitos, a cooperar ou a compreender diferentes perspetivas. Vínculos afetivos formados durante as fases da infância e da adolescência assumem-se como particularmente influentes ao preparar terreno para a capacidade de estabelecer relações saudáveis na vida adulta. Estas interações ajudam a moldar a identidade e a competência social dos indivíduos.

Teoria da Identidade Social (Social Identity Theory) Formulada por Henri Tajfel e John Turner, esta teoria sugere que as pessoas derivam parte da sua identidade e personalidade a partir dos grupos de amigos aos quais pertencem. A teoria da identidade social procura explicar o modo como as relações de amizade são formadas e fortalecidas a partir da perceção da pertença a grupos comuns. Nesta perspetiva, as amizades são frequentemente estabelecidas entre indivíduos que partilham identidades sociais semelhantes, como interesses, valores, ou experiências em comum. Este sentimento de pertença e união pode aumentar a coesão e o apoio mútuo entre amigos, consolidando ainda mais os laços interpessoais. Além disso, esta teoria também sugere que a identificação com um grupo social pode influenciar o comportamento dos amigos ao promover e fomentar as normas e os valores edificados por esse grupo, criando assim uma base sólida para a confiança e a lealdade.

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